Fobias Infantis e a Guerra na Ucrânia

“Se Calhar Tenho de Me Ir Embora de Portugal, Porque o Putin Vai Invadir Isto!”

 

As nossas últimas semanas têm sido marcadas pelas notícias, relatos e imagens da Guerra na Ucrânia. E essa realidade tem tido um impacto forte e nem sempre saudável nas nossas crianças. Tem sido frequente ouvirmos comentários, assistirmos a jogos ou visualizar desenhos que ilustram a forma como as crianças do nosso Agrupamento, vivenciam esta realidade da guerra. Na maior parte das vezes sob um quadro de ansiedade(s) fóbica(s).

Este quadro fóbico, pode ser explicitado pela afirmação de uma aluna do Primeiro Ciclo do nosso Agrupamento, logo ao início do seu dia, enquanto treme as mãos e se expressa notoriamente agitada.

Inventário de Personalidade Para Crianças e Jovens

Quer nesta nossa aluna, quer noutras crianças, tem sido possível identificar um conjunto diversificado de fobias (medos irracionais): o medo das suas casas serem destruídas por bombas, dos seus pais terem de ir combater para a Ucrânia, de se separarem das suas Famílias, entre outros.

Para além destas manifestações cognitivas, podem estar associados alguns pesadelos, alterações do padrão de sono, e em termos emocionais, uma maior dependência d@s adult@s, para a realização de algumas tarefas.

Escala de Ansiedade Para Adolescentes

A gestão desta perturbação de ansiedade pode ser mais um desafio com que eventualmente, se deparem @s adult@s que lidam com estas crianças, nomeadamente @s seus Encarregad@s de Educação. Porque este tema da guerra, está atualmente em todo o lado: nas redes sociais, nas conversas dos adultos, ou na televisão a toda a hora, a mediação dos adultos, tem um papel determinante na perceção e posterior controlo dos níveis de ansiedade que possam ser vividos pelas crianças.

Não se poderá evitar, a maior parte das vezes, o acesso à informação, mas ela pode ser “traduzida” e explicada, de forma a diminuir o impacto negativo e ansiógeno que ela possa gerar nas crianças.

O tipo de discurso e explicação a ser dado, deverá estar sempre adequado à idade e desenvolvimento da criança. Por exemplo, para crianças mais novas, poderá ser suficiente, uma explicação simples e quase lúdica da distância até à Ucrânia, ou do desinteresse que Portugal tem para a Rússia, porque os russos sabem que Portugal não tem misseis que os possam atingir… O visionamento de um mapa e um abraço terno, podem ser um bom paliativo, e a melhor maneira de demonstrar que ali, com a sua Família, ela está segura. E isso, é muito importante.

Nestes momentos, as melhores ferramentas terapêuticas podem ser mesmo o nosso tom de voz calmo, o toque gentil do nosso abraço contentor e o nosso olhar que lhes transmita que ali, na nossa presença, estão seguras e protegidas.

Para crianças mais velhas por exemplo, já poderá fazer algum sentido tentar explicar o contexto histórico da guerra, uma vez que os conflitos armados envolvem interesses económicos conflituantes e ressentimentos mútuos de longa data.

Avaliação do Auto-conceito Para Crianças e Jovens

Independentemente da idade, uma noção clara que @s Encarregad@s de Educação devem ter presente, é a de que não devem minimizar estas manifestações ansiosas, caso elas ocorram. Até porque, especialmente, em crianças mais novas, pelo próprio desenvolvimento neuropsicológico da sua estrutura do córtex cerebral, não lhes é na maior parte das vezes, possível, distinguir a realidade da fantasia que elas criam.

E esta vivência da guerra, pode apesar de tudo ser uma oportunidade para transmitir e partilhar valores como a solidariedade, a interdependência, a importância de ser capaz de dialogar sempre, ou a liberdade. E esses são valores que fazem sentido ser transmitidos no seio da Família. Aliás, esta é uma das funções básicas de uma Família: a transmissão de valores, através da Educação. Tal como a proteção dos seus elementos.

 

Artigo publicado no Jornal
Lápis Escritor do AEVouzela
e no Jornal
Notícias de Vouzela

 

Se conhece crianças que de alguma forma estejam a viver alguma situação de Fobia, ou qualquer outro tipo de medo, para o qual não consigam encontra forma de o ultrapassar, encontre um Terapeuta em: